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"Procura-se um dono"
Dr. Luis Eduardo de Almeida
CRMV 3664
Rio de Janeiro, Outubro de 2004
Este
era o título da nota de uma das colunas de um jornal de grande
circulação na cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de setembro
de 2004. Tratava-se do triste relato de abandono de um cão da
raça Chow-chow. Amarrado no calçadão da praia do
Leblon (Posto 12), trazia um bilhete junto a coleira o qual dizia que
o proprietário não tinha condições de arcar
com as despesas do animal e que ainda faltava aplicar a terceira dose
da vacina. Informava ainda que o cão não podia comer pão
e pedia que o novo proprietário desse carinho ao mesmo.
Em uma matéria anterior, sob o título "Posse Responsável",
discuti a responsabilidade (ou a falta dela) de pessoas que adquiriram
animais sem antes pensarem nos prós e contras de tal atitude.
Possuir um animal de estimação não se resume a
dar esporádicos passeios à beira do mar ou mesmo ao redor
do quarteirão. Nem colocar ração no comedouro e
água para beber, acreditando que isso é suficiente. Esses
animais de companhia, como são chamados, precisam de muito mais
do que isso. O proprietário deve dispor de algum tempo para eles
e atender às suas necessidades. Deve compreender que está
convivendo num mesmo ambiente com uma espécie diferente e que,
por mais que possam assimilar alguns de nossos hábitos, eles
possuem peculiaridades próprias. Suas atitudes muitas vezes não
são aquelas que nós teríamos na mesma situação.
Alguma ou mesmo muitas dessas atitudes precisam ser toleradas e compreendidas
para haver uma convivência harmoniosa. Muitas vezes pode ser necessário
recorrer à ajuda profissional (veterinário) para a solução
de alguns problemas.
Como exemplo, posso citar a hierarquia que se estabelece em uma matilha
como o motivo responsável pelos conflitos muitas vezes apresentados
a mim por proprietários com problemas de relacionamento com seus
animais de estimação. Os canídeos selvagens convivem
em sociedades onde se estabelece uma hierarquia de dominância
desde o nascimento, assim como em nossa sociedade (principalmente em
ambientes de trabalho). Quando essa hierarquia é quebrada, o
indivíduo transgressor é advertido ou punido. O mesmo
acontece com os cães, porém sua advertência é
feita através de uma mordida, que muitas vezes é interpretada
pelo proprietário como desvio de comportamento ou agressividade.
Dessa forma, para que ocorra uma "promoção"
de posto, se faz necessário um confronto onde o derrotado cede
seu lugar. É natural que o detentor do posto cobiçado
procure defendê-lo. É o que acontece, muitas vezes em horários
de comida, com brinquedos e mesmo com um determinado lugar no sofá
ou almofada. Portanto, quando adquirimos um cão, devemos nos
preocupar com lugar que queremos ocupar nessa hierarquia e cuidar disso
desde o início (quando o animal é ainda um filhote).
A questão financeira - que foi o motivo apresentado pelo ex-proprietário
do animal como justificativa de sua atitude - também não
recebe a devida importância. Os cães e gatos não
estão ali simplesmente para diminuir o volume de lixo produzido
em nossas cozinhas. Não podemos dar a eles tudo o que não
aproveitamos, acreditando que estarão alimentados dessa forma.
Esses animais apresentam necessidades nutricionais que, quando não
atendidas, podem levar a diversos problemas que podem se manifestar
de várias formas, mas principalmente na pele. É necessária,
também, a vacinação para que os animais não
transmitam doenças e para evitar que eles fiquem doentes e venham
a falecer. Alimentos balanceados, produtos de higiene, exames, medicamentos
e cuidados veterinários têm um custo que devem estar previstos
durante toda a vida de um animal. Afinal, por mais que eles sejam saudáveis,
um dia certamente eles irão precisar deles. Não conheço
um pessoa sequer que nunca tenha ido ao médico ou que nunca tenha
tomado um medicamento ou vitamina. Da mesma forma, são os animais.
Tudo isso deve ser pensado antes da aquisição e principalmente
assumido depois dela. Não estou aqui pregando contra os animais
de estimação. Eu mesmo tenho quatro cães em casa
e mais seis antigos animais de rua (que cuido em uma das clínicas)
e posso dizer que é muito gratificante. Sempre atendi a todas
as suas necessidades, fazendo um trabalho preventivo para evitar grandes
gastos com tratamentos uma vez que são muitos animais. A opção
de possui-los (ou não) é nossa e não deles. Não
estou aqui para julgar ninguém, mas francamente! Abandonar o
pobre animal na rua, entregue a própria sorte ou contando com
a compaixão de alguém que nem optou por isso é
querer se livrar do problema com o menor esforço. É um
mal exemplo de responsabilidade, um reflexo do individualismo, do desrespeito
e da perda de valores que há muito tempo vêm se instalando
em nossa sociedade.
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